Já estão surgindo métodos de fazer jornalismo diferente do modelo convencional. Não chega a ser uma revolução, mas por alguma razão, está se percebendo a necessidade de inovar em jornalismo, acompanhando a evolução das novas tecnologias e dos relacionamentos sociais e familiares. Mas essa nova maneira de se pensar jornalismo não quer dizer que algo totalmente novo deve surgir. De acordo com Felipe Pena, o jornalista literário, isto é, mais humanizado, não ignora o que aprendeu no jornalismo diário.
“Os bons princípios da redação, como a apuração rigorosa, a observação atenta, a abordagem ética e a capacidade de expressar claramente, entre outros, continuam extremamente importantes. Seu desafio é construir novas estratégias profissionais, desenvolvê-las de forma que ultrapasse os limites do acontecimento cotidiano, rompendo com as características da periodicidade e da atualidade. Por isso, é possível ganhar em contextualização e ampliar a visão da realidade” KANEHIDE (2009, p. 161).
Autores como Pena e até Edvaldo Pereira Lima, pesquisador dessa linha de jornalismo, defendem a utilização de fontes comuns, não-oficiais, às reportagens. A diferenciação de fontes, pode deixar a história mais interessante e às vezes mais ricas do que simplesmente seguir a pauta que todos os veículos estão seguindo.
No artigo “O uso da descrição e do diálogo aberto na narrativa jornalística: Em busca de um jornalismo (re)humanizado”, André Giulliano Mazini define que o repórter deve dar mais importância à compreensão do leitor sobre as notícias que veicula. “Logo para que um texto permita ao leitor compreender o tema tratado, é necessário que esse leitor esteja incluído, ainda que momentaneamente, naquele que lhe é informado” (MAZINI).
Mas essa humanização já não é mais apenas uma utopia, podemos observar em veículos de comunicação a reorganização desse modelo mecânico, contendo apenas o lide. O jornal Diário Digital de Campo Grande/MS trabalha com pequenos textos e muitas imagens, é quase que uma revista eletrônica. E novos formatos estão aparecendo em todo o território brasileiro. Um exemplo é o primeiro jornal brasileiro desenvolvido exclusivamente para Ipad – Brasil 247. No entanto, não são apenas novos veículos que adotam novos parâmetros, veículos antigos também mostram um feixe de mudança em suas redações. Utilizo aqui um trecho da matéria do Campo Grande News, tradicional site de notícias de Campo Grande/MS, com o título “Menino extorquido por ex colega de escola “pagava” para não apanhar”.
“A história é digna de filme americano, um caso clássico de bullying. A vítima, que no começo era obrigada a fazer as tarefas de classe do garoto, pegava dinheiro de casa para não apanhar. “Ele dizia que ia me matar. Ele e os guris amigos dele”, desabafa o menino”.¹
A reportagem, diferente da maioria divulgada pelo veículo, é extensa, tem várias fontes e narra a história a partir dos relatos dos pais e da vítima. Ao ler a notícia, vários leitores se emocionaram e se indignaram com a história do menino. Talvez, pela maneira como foi contada pela jornalista Paula Maciulevicius.
Ainda tendo como exemplo, a reportagem sobre bullying citada acima, é possível refletir, que a desculpa de tempo, imposta pela indústria da notícia, não prevaleceu neste caso. O raciocínio de que o tempo para se escrever a notícia é curto e por isso são escritos pequenos textos, estruturados no “o que”, “quem”, “quando”, “onde” e “porque”, já deixam de ser a única maneira de se relatar uma história. E as pessoas aprovam isso, se não fosse assim, não teriam comentários ao final da noticia.
No texto “Sinais de beleza da mídia”, por Gabriel Perissé, há defesa de que o jornalismo mecânico não questiona, nem aponta erros. É um jornalismo superficial, e ele questiona “voracidade em informar leva a resultados, mas... que resultados? E a que preço?”.
“Jornalismo mecânico, praticado por jornalistas tecnificados, também não deixa muito espaço para a criatividade, a análise e a liberdade de raciocínio do leitor. O leitor lê mecanicamente (quando lê), consome os fatos, consulta as informações, decora as manchetes, engole os clichês, repete os slogans. Jornalismo oco gera leitores ocos, homens ocos, cheios de nada, sombra sem cor, gesto sem vigor...” (PERISSÉ).
Ele conclui o texto dizendo que jornalista humanizado é jornalista que traz além do que é convencional, tem estilo e não é preocupado apenas em transmitir uma noticia. Talvez seja isso que relamente falte para mudar o modo de fazer jornalismo.
Não adianta toda a tecnologia de ponta em uma redação. Os melhores equipamentos à disposição, se o jornalista, ainda tem a mente de uma “maquina de datilografar”. É preciso mudar o pensar jornalismo e o ‘fazer’ será uma consequência dessa revolução mental.
¹Paula Maciulevicius - Menino extorquido por ex colega de escola “pagava” para não apanhar. Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/menino-de-12-anos-era-extorquido-por-colega-dentro-de-escola-estadual. Data de acesso: 26/05/2011 às 13h45.
KANEHIDE, I.J. - Algumas meias verdades sobre a narrativa jornalística... e a busca por um jornalismo Humanizado. Comunicação & Sociedade. Brasil. (2009). P. 155-176.
Gabriel Perissé – Sinais de beleza na mídia. Disponivel em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=367AZL002. Data de acesso: 27/05/2011 às 10h23.
MAZINI. André Giulliano – O uso da descrição e do diálogo aberto na narrativa jornalística: Em busca de um jornalismo (re)humanizado. Disponível em: http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/2/29/08_-_O_uso_da_descricao_-_Andre.pdf Data de acesso: 29/05/2011 às 8h40.